Eu não sou daqui, marinheiro.

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Vivo numa geração que não é a minha praia. Meus amigos de bairro, salvo raríssimas exceções, são bastante divertidos: levam a vida priorizando o prazer, o divertimento e a confraternização (seguidas, múltiplas, infindáveis, renováveis feito rabo de lagartixa). Quem vê de fora, atesta sem pestanejos: são os mais felizes homens do mundo!!! A questão é olhar de dentro (ou olhar para dentro). Os meus amigos de bairro, salvo raras exceções, não tem muita coisa dentro, o problema é esse. Nem do coração, nem da cabeça.
Os meu amigos de bairro, salvo raras exceções, são a extensão de uma juventude alienada de alguns dos principais valores da vida. Eles optam por não amar, preferem distribuir os seus corpos entre si num ritual de antropofagismo deliberado. Não conseguem enxergar o mundo para além dos muros da cultura na qual nasceram. Nada que não cheire a cerveja, futebol, paquera, sexo, pagode ou forró, tem vez entre os itens simbólicos compartilhados pelos meus amigos de bairro. Chega a impressionar como alguns deles limitam a sua perspectiva de vida aos prazeres fulgazes que os fins-de-semana trazem. Não notam que a próxima sexta-feira reclamará as mesmas saciações, num processo de carência-satisfação-carência que não cessa, só condena à escravidão. Falta-lhes a distância necessária da rotina que possuem, para perceberem que o mundo, a vida e a existência humana superam significativamente o dia-a-dia que levam.
O que preocupa nos meus amigos de bairro não são as suas práticas em si, afinal eu também cometo os meu erros, faço as minhas besteiras (menores, iguais e maiores), e sim a reflexão que (não) fazem acerca delas. São hostis à qualquer comportamento que soe estranho aos costumes reitereados pela tal sociedade que vivem, sem nem saber por quê. Não atentam que, ao contrário de serem bio-determinados, seus procedimentos são eminentemente culturais. São resistentes a qualquer ideal de conduta que ponha em xeque a validade de tudo o que eles cresceram fazendo. Os meus amigos de bairro, sem exceção alguma, são homens, seres humanos, feitos de carne e osso, e por isso mesmo vivem entregues às suas próprias realizações, empolgados com as construções de suas mãos e enganados pela aparente recompensa que esse mundo traz. Os meus amigos de bairro não se explicam, não se problematizam, não se questionam, não se contestam. Não sabem perguntar. Eles vivem, se entregam a tudo o que aparenta ser bom (e bom para eles é sinônimo de tudo o que traz prazer momentâneo), e encerram-se no hedonismo maluco que só maqueia o vazio existencial que eles nem pararam para notar.
Meus amigos de bairro não param para notar muita coisa. Não sabem onde estão, não sabem onde poderiam estar, não fazem idéia do que é possível viver longe daqui. Eles são os meus amigos de bairro, para os quais eu posso falar pouquíssimas dessas palavras, e que por isso me condenam a um desejar-bem calado, como quem observa a situação de perto, mas tem pouca destreza para transformar palavras confrontadoras em coisas doces de se ouvir. Notar tudo isso, saber do que sei, e mesmo assim ter que desejar calado, é a minha amordaça dolorosa, que dói mais a cada vez que percebo a ignorância quase-total ser despistada com um riso frouxo, amarelado, quase cínico, de quem acha que a vida é aqui.
Vivo numa geração que não é muito a minha praia, mas que ainda assim (ou exatamente por isso) eu preciso desenganar. Sou douto em algumas verdades que já existiam antes de mim e que eu preciso anunciar, antes que a geração à minha volta morra, presa em seus próprios desíginios, sufocada por seus próprios martírios e afogada em suas próprias (in) certezas.
A mim foi confiado esse papel, não o de sofrer calado pelos amigos que amo, mas o de ser porta-voz do Deus que também quer ser amigo deles, e que em um belo dia abriu os meu ouvidos para essas mesmas coisas que por hora tenho que anunciar. Isso ainda que me renda o ódio, a antipatia e o desapreço dessa geração. Eu não vivo mais para ser agradado, querido e amado. Minha missão é anunciar o amor de Deus e o consequente plano de salvação que ele arquitetou para todos os homens, inclusive para os meus amigos de bairro. Isso doa a quem doer, e a despeito de ser apedrejado em praça pública.
Estou certo que um dia as coisas que hoje dependem de fé serão desembaraçadas pelo suceder dos fatos, evidenciadas pelo desfecho dos tempos, e a recompensa dos que fizerem o que eu preciso fazer estará lá, intocada, reservada, inviolavelmente garantida. O problema é que no Dia que isso acontecer, eu não quero ver os meus amigos de bairro do outro lado da separação, quero que eles tenham o mesmo destino dos que reconheceram, ainda em vida, que precisam de Deus e dos que buscaram conhecer a sua face. É para isso que trabalho, é por ter essa certeza que sofro por eles.
Meus amigos de bairro provavelmente não lerão esse texto porque é muito grande ou porque outras páginas concorrentes lhes parecerão mais sedutoras. Porém, se alguém, ainda que sejam só as exceções, passar a conhecer a Deus por dar ouvidos à essa mensagem que anuncio, poderei bradar com júbilo: missão cumprida!

"Porque nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam"
II Cor. 2:9

8 comentários:

Unknown disse...

Muito bom seu texto Huguinho!
Que Deus nos abençoe para pregarmos tudo o que Ele já deixou escrito.
Bjs

Gabi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabi disse...

Eh Hugoide...acredito q "os meus amigos de bairro" sejam cm os seus amigos de bairro e talvez n entendam o q nos leva a negar tds (ou qse tds) os prazeres mundanos...diante do exposto eu deixo essa passagem p/ vc:

"Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como aguias, correm e nao se cansam, caminham e nao se fatigam."
Is. 40:30-31.

Unknown disse...

... ... ... ...

Adm Ead UNEB disse...

Perfeito!!
Uma verdaeira sacudida!!
E que Deus nos tire as vendas a cada dia!!
Bjo

Unknown disse...

Te conheço bem menos do que gostaria...Deus abençoe sua vida.Bj

Unknown disse...

1. Isso me lembrou Legião "às vezes o que eu vejo quase ninguém vê".

2. Isso me lembrou Oasis "we see things they will never see".

3. O mesmo não se pode dizer dos seus amigos de faculdade, né? hein? hein? hein?

4. A cegueira às vezes é opção, às vezes é condenação. Em todo caso, naõ nos cabe julgar. Sim, porque notar certas coisas dói, pensar e perceber condicionamentos e limites preocupa, refletir angustia. Nem todo mundo consegue lidar com isso sem cair em uma depressão profunda.
Negação é uma forma de proteção do Ego.
Mas a racionalização também é.
A fé, a reflexão, a racionalização e alienação não deixam de ser versões diferentes do mesmo veneno e da mesma cura.

5. O sexo é o único momento em que o ser humano pode experimentar o divino dentro dele.

6. Tudo é relativo. Esquece o que eu disse e sai pra olhar o mar. Que não dá pra ver do seu bairro.

Unknown disse...

Hugano...
Acho que n estou no meio dessas "raras excessões"...
Mas este texto, tem uma bela contribuição minha. rsrsrsrs
Saiba que (como disse a jovem ai em cima), ele sacudiu o que eu já tinha em mente e que vc é parte fundamental na mudança desejada !!!
Vc é show sacana !!!