Eu, a jaca e Deus.

|

Hoje estreei meus atributos de cortador de jaca. Levei uma para casa, depois de apanhá-la aos pés do pé, onde amadurecia à espera da hora de ser dilacerada por um animal que, no caso, fui eu.


Faca em punho, na pia da cozinha conheci um pouco mais de Deus. É que não há possibilidades de aquele negócio não ser resultado da engenhosidade de uma mente maior. Para se ter uma melhor noção da coisa, cabe informar que eu nunca fui dado à degustação da fruta em questão, e isso me fazia um ignorante em jacas ao ponto de desconhecer (até então) onde se localizavam os bugalhos comestíveis daquele troço gigantesco e pesado. E a expedição inédita começou justamente com a descoberta de que os tais bugalhos (ou seriam bagulhos?), mais do que se localizarem em algum ponto, eles se escondem. Se escondem por debaixo de uma espécie de membrana dura, que não se come. Se esconde entre uns fiapos brancos e espessos, que também não se come. Ficam infiltrados numa gosma que da mão só desgruda ao banho de óleo vegetal. Gosma essa que, segundo a aparência já informa, também não se come!


Caramba, como a jaca é complicada! A forma com a qual ela exige do seu desbravador o mínimo de familiaridade com as coisas complexas e trabalhosas me fez pensar. E muito. No que toca as frutas de um modo geral, repetiu-se a pergunta que brota sempre em mim, e que fica problematizando acerca das descobertas dos frutos comestíveis pelo homem, a cada vez que eu como um (fruto comestível). Como os primeiros seres humanos foram descobrindo as frutas que os cercavam? Como se deu o processo de detecção de todas elas e a posterior reprodução cultural dessas informações até chegar a mim, centenas de gerações depois? Me maravilha saber que eu já nasci num tempo que sabe salteado qual a parte exata da jaca própria para consumo do paladar.


Via Deus enquanto cortava a jaca. Mais precisamente, via o tratar de Deus na vida de um homem, que também nos cata, escolhe, pega, corta, rasga, despedaça quando preciso (e sempre é), separa o que presta do seu oposto, e potencializa o pouco que temos de útil. Até nos transformar naquilo que ele projetou para nós.


Sem mais, me parece a comparação perfeita: a jaca fede, mas pode até curar gripe.



10 comentários:

Unknown disse...

Meninos de cidade grande demoram pra descobrir certas coisas né?
O interessante é o seu texto contando essa experiência "fantárdida"...rsrsrsrs
Bjs

Hugo de Assis disse...

É Deburita..menino de play ground é dose..rs
Eu que odiava jaca, agora até ja me vejo nela.

Marta disse...

oi hug
vc q escreveu esse texto?
hum q bacana...
dou-te a honra de ter a minha vicita em seu blogg.
biju

"Sol do Girassol" disse...

Oi Hugo, eu não acretido q vc fez esse texto depois daquele episódio lá em ksa.
Qd Rafael falou : "Pronto agora ele vai escrever sobre a jaca no blogg dele".
Eu ñ acreditei.
Mas ñ é q era verdade, ficou incrível!!!
Apesar de ñ gostar nem um pouco de jaca(p falar a verdade eu ñ gosto nem do cheiro), passei a admira-la.
Vista por esse ângulo...Rsrsrsrs
Não pare, vc é muito bom!!!
Um beijão.

Hugo de Assis disse...

POis é , sol do girassol. Eu tb não gosto de jaca. Pra mim ela fede a cocô. Sempre disse isso aqui em casa e nunca fui chegado.
O texto eu escrevi no sábado mesmo, antes do espisódio lá em sua casa. Naquele dia, Rafael falou que eu escreveria sobre uma parede branca, o que não aconteceu, pelo menos não até agora.
Bom ter sua visita por aqui.
Bjão.

Unknown disse...

Assim é com as palavras.

Cate-as, escolha-as, corte-as, despedace-as, del no inútil, re-una-as, backspaces, barras de espaço, separa a gosma e deixa o estilo.

Tem-se um texto digerível.
Comestível.
E quem sabe até, saboroso.

Nani disse...

Ahahahaha

Mas tbm, vc só falou da jaca mole...
e essa ai é ruim mesmo, eu num gosto =P

Não vou cair no clichê de dizer q o texto está ótimo. aliás, acho q não vou dizer pq não aguento mais dizer. E ponto

Coxise disse...

A jaca tá com mto ibop dps daquela novela insuportável...
Bom, nós, como boa jacas, devíamos grudar no criador, q nem óleo vegetal pudesse tirar. Aí sim, o sentido do visgo.
=]

Unknown disse...

Oi jaca(ré) ---- verdadeiro 'tocalixu' esse.

Jaca nem é uma fruta que me "chama", ams até que seu texto deu um ar interessante para a bendita.

=*

Harlei Eduardo disse...

Pois é, Hugo...!
Que bom já nascermos imersos nas tais redes de familiaridade que nos situam nessa configuração sócio-histórica a que chamamos vulgarmente de realidade.
Eu, particularmente, jamais teria sido o primeiro a comer uma jaca...rsrsrs
Sua construção textual a partir da experiência prosaica confere um sabor (de jaca..rsrsrs)muito bem-humorado ao seu texto.
Por sinal, lembrei do estilo do Amarante...
Abços e força sempre!