Rio de Abril

Se ele continua lindo, felizardo de quem já o viu antes. Eu estive lá por esses tempos e pude trazer na mala o espanto de uma admiração inesperada e as lembranças de uma viagem frenética. Frenética desde a sua concepção, que não durou mais de dez minutos: em uma ligação, eu tive que dizer "sim" ou "não" a um amigo que estava prestes a reservar a minha passagem para a madrugada que chegaria em pouco mais de oito horas. Devido à proximidade da ocasião de embarque, a resposta teria que ser dada naquele momento, e após o argumento cretino de dividir o pagamento da passagem em cinco vezes no cartão de crédito dos outros, o "sim" foi junto com o meu juízo. Graças a Deus!

Conhecer o Rio é uma experiência cognitiva. Integra bem o leque das vivências profissionais de um comunicólogo. A cidade é maravilhosa, como a pedra já cantou, mas parece mais maravilhosa por causa da TV lá de casa. Lembro-me que sensação parecida eu tive quando vi pela primeira vez o Farol da Barra. Lindo, mas a frase que não me saía da cabeça era: "Caramba, eu sempre vi isso na televisão e agora estou aqui!". A mesma coisa senti em Copacabana, no Corcovado, Maracanã, Leme, Botafogo e na Lagoa. "Eu estou aqui!" - não parava de repetir. Em situações como essas. dá pra notar o quanto um meio poderoso como a Rede Globo e um velho Noel competente como Manoel Carlos influenciam nossa maneira de ler o mundo. Seria aquela cidade tão bonita, caso fosse menos midiatizada? Qual a porcentagem do meu embasbacamento que diz respeito ao visual deslumbrante daquelas montanhas e praias, e qual diz respeito a estar no lugar que cresci vendo no horário nobre da televisão? Essas perguntas vieram junto na mala.

Assim como vieram também algumas outras relfexões como por exemplo a existência de duas cidades: a do Jornal Nacional e a das novelas; e a suposta mobilidade de um Cristo que é visto de vários pontos da cidade, e que muda de posição quase que por segundo. O Corcovado se move e o Cristo gira no eixo, eu ainda vou provar isso!