O cassino, o supermercado e a opção de montar um carro.

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Todo texto é um cassino. Onde as apostas semânticas são configuradas a partir da escolha de palavras e expressões que, em primeira instância, respondam de maneira satisfatória à necessidade de formular uma mensagem minimamente decodificável.

Todo texto é um caixa de supermercado. Onde chegam os itens eleitos dentre tantos outros, aprovados pelo crivo dos critérios mais diversos, que vão desde a fome de comunicar, à impossibilidade de sangrar o orçamento vocálico do mês, passando pela missão de, em segundo nível, provocar no leitor o desempenho estético desejado.

Os meus textos eu comparo às modernas páginas virtuais das montadoras de carro. Onde você pode ir arquitetando o seu protótipo, testando cores, agregando acessórios, descartando itens opcionais, com o trunfo da visualização instantânea, até alcançar a estrutura mais aprazível.

Texto, seja ele qual for, é manipulação de signos. É intervir num universo de possibilidades e retirar dele o resultado mais adequado para a objetivo  proposto.Texto é preparar, mirar e disparar. É um jogo de pôker. É aposta, é proposta e é blefe.

Escrever é gozar da liberdade de seguir em qualquer direção sem, no entanto, conseguir evitar as regras da construção e os limites da compreensão. Todo texto elaborado com cuidado é uma sugestão de caminho, que pode ser aderida ou negligenciada por quem lê. 

Todo texto é um louco de guerra, frustrado, que não abandona o poder que não tem. Escrever é se achar o maioral e perder a chance de ter ficado quieto.

Escrever é colocar mais reticências no mundo.

3 comentários:

Ilana Guimarães disse...

Muito bom! Metalinguagem poética...
"Escrever é colocar mais reticências no mundo."

Verena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Verena disse...

Suas ideias sobre produção de textos são, deveras, interessantes..para completar a magia das escolhas, somente os efeitos que podem causar nos jogadores, clientes e proprietários de veículos.